Conhecendo Gabrita Off e Refletindo Sobre
Meu hiper foco por 5 meses, Only Fans, novela das sete e Youtube.
Em uma das minhas navegações digitais pelo YouTube, enquanto procurava algum conteúdo que não seja chiclete ou uma paródia de novela das sete, conheci uma youtuber chamada Gabrita Off que começou a gravar vídeos pessoais contando sobre sua vida. Como uma forma de vencer seu vício em pornografia que a fez por dois anos ser uma criadora de conteúdo no Only fans. Seus vídeos foram por um tempo para mim uma maneira de entender como é esse mundo de vendas de conteúdo e como isso pode afetar a cabeça de uma jovem garota. Além dela trazer outros assuntos em uma perspectiva de uma mulher hétero sobre o que é ser mulher com vício em pornografia, relacionamentos e discussões sobre momentos de sua vida pessoal.
Assistir os vídeos da Gabrita foi como ter de uma certa forma uma observação participante por alguns meses no ambiente digital com estes assuntos que ela trazia. Assistir uma mulher jovem, branca e com uma aparência padrão dizer como era ser uma vendedora de conteúdo foi um exercício gratificante de acompanhar. Mesmo que não seja o meu objeto de pesquisa enquanto estou me graduando em Ciências Sociais, é um assunto que na academia e fora dela esta a tona no momento. A discussão do que é sexualidade é uma agulha no palheiro, e complexando ainda mais quando temos o ambiente digital e a venda de conteúdo erótico por mulheres, em plataformas como o Only fans e outras redes sociais. O que é vulgar, permitido, proibido ou aceito é um debate que está em constante movimento entre pesquisadores, vendedoras e consumistas.
Por estar na academia, já tenho contato com um grupo acadêmico que discute uma visão de que o corpo feminino deve ser livre para fazer o que quiser. Mostrar o corpo da forma que a mulher quiser é visto como uma forma de revolução contra o patriarcado. Assim, o contato com o vulgar é visto como belo e aceito por esse grupo. Podemos definir então que segundo este nicho, ser uma vendedora de conteúdo é uma forma bem vista, pois ela é uma mulher livre para fazer o que deseja com o seu corpo. De certa forma, compreendi a visão que este grupo vê a vulgaridade, entretanto, fiquei refletindo qual seria a visão de uma mulher que seria contra tudo isso. E ao achar esta youtuber tive algumas respostas para isso, pois além de ser uma mulher que já esteve dentro desse universo, ela não está ligada ao meu mundo em uma universidade.
Assim, ao longo dos meses, conheci uma história de uma garota que gradualmente foi se abrindo por meio de vídeos polêmicos. Discorrendo sobre o que é o pornográfico, colocando assuntos como abuso familiar, amizades ao longo da infância, bullying e como ela foi passando por isso até chegar onde estava no momento. Sua oratória e seu carisma me fizeram, mesmo que em alguns de seus vídeos não me sentia ligado de nenhuma forma aos seus assuntos, continuar a acompanhá-la com vídeos que chegaram a quase meia hora sobre algum tema em sua perspectiva feminina. Posso dizer que aos olhos de outras pessoas, ela poderia se caracterizar como uma garota de direita, mas, ao mesmo tempo, ela deixava a par muitas ideias de esquerda. Assim, sempre existiu em seus vídeos uma certa dualidade entre ideias de que alguns a criticavam e outros a aplaudiam, em um público que sempre foi de maioria masculina e jovem.
Esse seu tom em cima do muro foi o que me fez continuar consumindo seu conteúdo. Pois além de chamativo, era mais interessante do que outros youtubers famosos que atualmente criam desde o início vender e lucrar rapidamente, com seus métodos de prender quem assiste por meio de informações rasas e sem sentido. Mas com Gabrita, se adentrava em uma categoria de uma youtuber que mesmo não fazendo tanto sucesso, cria-se em seu próprio nicho que traz a tona a primeira era do YouTube. Uma era onde tínhamos vídeos sem edições, somente uma câmera e uma pessoa falando sobre algum assunto pessoal. Não é nada visionário, mas mesmo os youtubers grandes do momento que fazem este tipo de vídeo, é por meio de um roteiro que simula situações reais para atingir o público, mas, no fundo, sabemos que aquilo foi personificado, como uma grande novela.
Entretanto, com o tempo assistir seu conteúdo começou a se tornar cansativo para mim, e fui percebendo esse processo lentamente. De início pensei ser por conta de seu canal estar crescendo dentro da sua bolha, isso acontece com o tempo com canais que começam a pegar uma certa visibilidade. O conteúdo começa a mudar de tom, se ajustando com o gosto do público maior e a vontade de quem produz. Gabrita começa seu canal com vídeos pessoais, falando sobre si, mas com o tempo a chave muda e ela começa a falar mais sobre o seu público, deixando de lado o tom mais sério para algo mais engraçado e com piadas mais jovens. Entretanto, como uma sacada genial mistura isso com assuntos polêmicos entre adolescentes e jovens, como relacionamentos, como chegar na garota e assuntos que variam de como conseguir uma namorada até confissões de seus inscritos sobre serem virgens.
O ponto que me fez parar de assistir seu conteúdo foi quando o assunto religião entrou no meio de seus vídeos. Lembro do mais icônico quando por meio de um discurso ela diz ter encontrado “Deus”. Acho interessante que por mais volta que muitas pessoas fazem para serem melhores, as chances de se jogarem em uma religião é grande. Eu mesmo já quase virei católico por conta de problemas pessoais, mas aí me veio um pensamento de que isso não ia mudar a minha vida, só iria piorar (mas esse assunto me aprofundo no texto da próxima semana, com Nietzsche e Santo agostinho). Assim, a youtuber que esta tendo uma gama de discursos sociais interessantes, se jogou profundamente em um livro de Santo Agostinho. Isso para mim foi um capítulo inesperado. Depois vi que os sinais já estavam todos ali, pois em vários vídeos existem citações do livro Confissões de Santo Agostinho. Mas o ponto principal foi quando em um vídeos cheio de emoção, ela diz ter encontrado Jesus Cristo, que esta a ajudando a seguir sua vida e a lutar contra seus problemas.
Presentemente, me senti como um pesquisador em campo quando pensa, okay, já estou com o conteúdo que eu queria, hora de ir embora. Parte de mim se sentiu frustrado por parte de seus problemas serem resumidos a encontrar a deus. Mas acredito ser compreensível, pois ao olhar para a situação da minha geração, vemos como a onda de conservadorismo está a cada dia crescendo entre os jovens, isso por meio das redes sociais é uma poderosa ferramenta. Além de que a batalha entre evangélicos, católicos, pentecostais e presbiterianos resume como o comportamento do brasileiro se constrói por meio do pensamento cristão.
Depois disso, seus vídeos se tornaram muito mais sobre falar sobe seus inscritos com um tema de humor sobre seus inscritos homens, com assuntos mais sobre relacionamentos adolescentes. Mas a figura desta jovem garota me fez refletir alguns assuntos como o vício da pornografia em mulheres é real, mas pouco falado para as pessoas. Pensamos ser somente os homens que por meio do contato precoce com o mundo erótico se tornam viciados com o tempo, mas esquecemos que esse mundo também afeta as mulheres. Que, ligando-se ao mundo da venda de conteúdo, descobrimos um mundo escondido entre uma personagem que a mulher cria para saciar seus clientes, mas por trás esta uma mulher que se não tomar cuidado deixa a sua saúde mental no mesmo nível que um soldado na guerra.
No fim, mesmo que já não acompanhe mais seu canal, reconheço que esta jovem mulher se tornou uma figura interessante da internet. Com seu conteúdo que pode parecer simples, mas que passa algumas mensagens peculiares sobre algumas características do universo feminino, como a saúde mental e discussões banais sobre os homens e as mulheres. Assim, deixo como indicação para quem se interessar assistir seus vídeos e tirar suas próprias conclusões e refletir sobre está pessoa, que acredito ser possível refletir sobre outros assuntos que rondam a geração de jovens atualmente na internet brasileira.